quarta-feira, 20 de novembro de 2013

PAUL E MARRIE - CAP. 4: QUANDO ME TORNEI O "BONITÃO" DE MARRIE




Ao sentar-me para tomar café, espera que Marrie fosse puxar algum assunto, agradecer pelo jantar da noite anterior, ou mesmo perguntar porque David não aparecera no apartamento.

Mas Marrie apenas me olhava. Sem falar palavra alguma, sentou-se ao meu lado e me observou tomar café. Ventava pela janela aberta e seus cabelos ruivos se misturavam em balançar e grudar em seus lábios.

Marrie não parecia se importar, apenas olhava-me atentamente tomar o café, como se não pudesse perder nenhum segundo daquele simples momento que passava ao meu lado.

- Por quê você está me olhando deste jeito, Marrie? – perguntei, colocando a xícara de café sobre a mesa.

- Perdoe-me, Sr. Paul. É que seus olhos destacam-se ainda mais quando está sem os óculos. Será que os anjos do céu usam óculos também?

Deixamos o apartamento às pressas, pois Marrie não podia se atrasar para seu segundo dia de trabalho. Fiquei atordoado com aquela frase que Marrie dissera. Não gostava quando ela me chamava de anjo. A verdade é que não me incomodava nem um pouco ser intitulado como “Doutor-Anjo”, até me sentia um pouco superior aos outros médicos quando alguém se referia a mim assim.

Todavia, não me sentia bem quando Marrie me chamava daquela maneira. Porque percebia pelo olhar daquela pequena mulher que ela não só me chamava de anjo. Marrie acreditava que eu assim o fosse.

Mal vi quando chegamos à cafeteria de Sr. Brian. Apenas me dei conta quando vi o agrupamento dos médicos de sempre esperando que o recinto se abrisse. E foi então que percebi que passara a noite fora de casa e estava sem o meu jaleco.

Lembrei-me também que havia alguns jalecos de sobra em meu apartamento, que bastaria pedir a chave para Marrie sem que ninguém percebesse e resolveria aquele problema.

Porém, quando olhei para Marrie, ela já estava colocando uma sacola de plástico sobre uma mesa e convidando todos gentilmente para adentrarem. E sequer olhou para mim.

Christopher, um ginecologista que estudara comigo na Universidade de Medicina, conduziu-me pelo braço até uma mesa, onde ele e mais um médico e um enfermeiro se sentaram:

- E aí, comeu a garçonete? – perguntou-me em tom descontraído.

- Como? – retruquei, assustado, pois não havia me preparado para aquela sabatina de perguntas machistas.

- Christopher, eu te falei, o Paul é um veadinho mesmo! Tenho certeza que ele dormiu na casa dessa garçonete e sequer pôde ver quantas cicatrizes a mais aquela ruiva gostosa esconde. – interpôs Charles, o oftalmologista mais conceituado daquele hospital.

Os três começaram a rir. E fora sempre assim, desde a época da graduação em Medicina. Minha timidez sempre me prejudicara, me fizera ser alvo de chacotas, gozações maldosas e pegadinhas de mal gosto.

Era um homem muito bonito, e fazia muito sucesso com as mulheres, contudo sempre as decepcionava em nossos encontros, pois falava muito pouco e era muito “devagar”.

Ninguém acreditou quando resolvi me especializar para ser um cirurgião, já que um “maricas” como eu jamais daria conta de abrir uma pessoa sem tremer as mãos. Não sabia, na época, se seria melhor me assumir homossexual ou se seria melhor passar por cima destes insultos e continuar com o meu disfarce.

- V-vocês, vocês estão muito enganados. Tive uma excelente noite. – além de gaguejar, meu tom de voz não era nada convincente.

- Então se você comeu a ruivinha...

- Por favor, Doutor. Não chame Marrie assim. – sentia ojeriza ao ouvir aqueles homens falarem de Marrie daquele jeito. Eles não a conheciam. Não tinham este direito.

- “Doutor-Anjo” está apaixonado... – todos gargalhavam.

- Paul, conte para nós, então... Aonde mais ela tem cicatrizes?

- Que comentário mais impertinente, Charles. – eu suava de nervoso.

- Ou pelo menos quantas cicatrizes ela tem, parecem ser muitas!

- São 23 cicatrizes, “doutor”, e se quiser saber algo mais sobre elas, basta que tenha coragem e seja homem o suficiente para encarar-me e perguntar, e não ficar interrogando o Dr. Paul.

Eu ficara boquiaberto. Não só eu, mas todos os presentes naquela mesa. Ninguém vira Marrie chegar, e ninguém imaginava que ela estivesse ouvindo a nossa conversa.

Senti uma enorme vergonha de mim, e de tudo que aquela mulher ouvira por minha causa. Quis levantar e abraçar-lhe, dizer que aqueles homens eram um bando de imaturos e que suas cicatrizes não mudavam em nada sua beleza. Que nada nesse mundo poderia lhe deixar feia.

Entretanto, a única coisa que consegui fazer na hora foi ajeitar-me na cadeira e colocar meus óculos dentro do bolso de minha camisa. Marrie se aproximou e entregou-me a sacola de plástico que trouxera consigo.

- Oi, bonitão. – Marrie aproximou-se ainda mais e sorriu para mim. – Você quase esqueceu de pegar seu jaleco comigo. Tenha um bom dia.

Marrie tocou delicadamente com sua mão direita o meu maxilar e pousou os seus lábios sobre os meus.

Não poderia chamar aquilo de beijo, porque não o foi. Marrie pousou seus lábios sobre os meus e então sugou um deles com delicadeza, por uns dois ou três segundos.

E ao soltá-lo, quem resolveu sugar um de seus lábios fui eu. Porque queria saber se a sensação de fazer aquele movimento era tão boa como foi quando o senti. E porque seus lábios eram tão macios que só me dava vontade de apertá-los. E tão meus naquele momento.

E quando tive Marrie tão próxima a mim, senti um cheiro que dera vontade de viver uma vida completamente diferente de tudo aquilo que havia passado até o dia presente.

Soltei-lhe o lábio e o nosso beijo de cinco segundos terminou. Marrie ainda segurava o meu maxilar, e em meio aos seus lábios, agora trêmulos, vi um sorriso aparecer.

Segurei a sua mão, que encostava em meu rosto, e sorri-lhe de volta. O nosso namoro estava acabando de começar.


E enquanto sorria para Marrie, apertei os olhos para olhar mais a frente, pois sentia que alguém nos observava. David estava na porta da cafeteria de Sr. Brian.

3 comentários:

  1. GENTEEE...NÃO VEJO A HORA DE CHEGAR QUARTA FEIRA...AH NEEEEM NEGA...E AGORA? QUE CURIOSIDADEEEE...FANTÁSTICA TRAMA! AMANDOOOO ACOMPANHAR...

    ResponderExcluir
  2. ESTOU ADORANDO ESSA HISTORIA .....................E JA ESTOU ESPERANDO O PROXIMO CAPITULO, MIL BEIJOS, MAMAE

    ResponderExcluir
  3. Vixiiiii, no primeiro beijo o outro alguem viu!aguardo o próximo capítulo!

    ResponderExcluir