terça-feira, 24 de março de 2015

CLASSIFICADO


Estou à procura de imperfeições.
De gente maluca, gente com tempo, gente maluca disposta a passar tempo junto. 
Ou nem isso, não precisamos passar tempo juntos. 
Mas se for imperfeito, fique. Nem que seja só para observar.
Cheguei ao meu ápice: preciso ver gente barriguda, espinha na testa, sentir cheiro de gente real. 
Cansei de ver a vida passando nesse mar de rosas, nesse mar de pensamentos clichês, nesse mar vazio que se multiplica a cada vez que pisco os olhos. 
A partir de hoje estou em busca de gente que tem a gargalhada estranha. 
Gente sem máscara. Gente sem roupa. Gente com fantasias.
Gente que não tem a vida dos sonhos, mas que está em busca. 
Gente que vai à praia. Que fica em casa. Que usa chinelos.
Salto alto, bons amigos, temas polêmicos, informação na ponta da língua! A foto perfeita, do dia perfeito, ao lado das pessoas perfeitas... Não estou dizendo que me nego a isso, e nem que nunca fui parte desse ninho da alegria.
Estou dizendo que cansei. Que me despi. Que me deitei. 
E que ao levantar, só pensei em mudar. Em desacreditar.
Em esperar. 
Em orar. 
Em amar. 
Em algum lugar.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Minhas raízes


Decidi fincar raízes. Adentrar-me. Penetrar nessa terra com o corpo. Fazer dali a minha morada.
Estive enganada esta vida toda. 
Temia, muitas vezes inconscientemente, o dia em que esta vontade de enraizar chegasse. Achava que dada tal hora, ao ganhar minhas raízes, perderia minha liberdade.
Mas, por ironia do destino, ou com moral de minha pequena história, foi-me mostrado uma realidade diferente: pois ao me plantar naquela terra, entre a grama verde e o subsolo fofo, foi quando pude me restabelecer. Firmar-me. Florescer.
Porque antes não. Antes rolava com a chuva, voava por lugares desconhecidos, machucava-me, e apesar de me considerar flor livre, nunca me sentia alegre o suficiente. No fim das contas, era flor cansada de ser sugada.
E agora, depois que fora convidada a me instalar neste jardim, apesar de meus receios, minhas angústias, minhas bagagens de primaveras passadas, deixei-me regar. Nutri-me. E esperei pelo Sol.
Engraçado foi, que quando o Sol, estrela sublime criadora de nossas alegrias, apareceu, desabrochei. E ao desabrochar, uma brisa perdurou por alguns minutos, e com delicadeza, levou algumas pétalas minhas embora.
Foi gratificante observar aquelas partes - então minhas - indo embora, indo para onde precisavam ir: para longe. Para perto. Contanto que não ficassem comigo.
Foi gratificante para mim saber que para ser livre, não precisava migrar-me, não precisava abandonar os dias, muito menos ser flor.
Entendi que ser livre é criar raízes e estar em paz com elas, e deixar o tempo (ou o vento) levar aquilo que tem chance de se desprender. Para que assim novas pétalas nasçam.
Bom final de semana a todos. J

quarta-feira, 18 de março de 2015

VOLCANO.


Existe um vulcão dentro de mim.
Mas engana-se aquele que quando me encontra espera por fogo, por larva ardente.
Meu vulcão é feito de água, Marujo! Água esta que hoje me mergulho, e me renasço.
Água que sou eu e que também é ela sozinha. Transbordo. Inundo. Também causo estragos.
Por um tempo, confundi minha água, meu vulcão em erupção, com uma tsunami, com a maré alta que surpreende e renova.
Contudo, percebi num piscar de olhos, que uma tsunami não nasce sozinha. Não aparece espontaneamente.
Se quero uma tsunami,  Marujo, devo fazer algo para movimentar este mar. Pois mar parado é mar sem ondas.
E eu que já não estou mais à procura de água mansa, de vida mansa encolhida, de dias passados ao acaso, prendi a respiração e mergulhei neste mar em busca da origem de minha onda-imensidão.
Não precisei de muito tempo para encontrar o caminho certo, bastou que eu mergulhasse para que a água me levasse ao meu destino. Como se o primeiro passo, como se o ato de estar debaixo d’água fossem a única necessidade para estar de encontro com aquele vulcão.
Ali era quente. Quente o bastante para me colocar em dúvida se estava mesmo dentro daquela imensidão de água. Quente o suficiente para colocar em fogo o meu corpo metade gente, metade bicho.
 Explodi. Explodi, não como as coisas etéreas se explodem, ou como quando a raiva toma conta do corpo metade bicho, metade gente.
Ao me aquecer, explodi como quem se deixa ser, quem se deixa ir sem medidas. Como quem absorve. Como quem transcende.
Explodi em vulcão de água. Feito por água. Dentro da água. Criado justamente para libertar dá má-agua. 
Aconteceu justamente quando fechei os olhos e mergulhei, e prossegui.

terça-feira, 17 de março de 2015

EU E MIM

Eu estive pensando no encontro.
Eu, com as mãos apoiando o queixo, de frente para uma paisagem nada mais clichê que a parede do meu quarto, estive pensando no dia em que eu encontraria o “eu” que propus a ser.
Como se ser o que eu tinha vontade de ser fosse ser alguém bem diferente de mim.
Como se o mundo proposto para minha vontade de ser fosse algo surreal.
Como se “eu” e “mim” de repente tivessem se tornado duas pessoas.
E agora, que “eu” e “mim” nos tornáramos dois sujeitos distintos, eu estava à espera do encontro. Agora meus pensamentos eram sobre quando “eu” e “mim” se tornariam nós.
Nós porque o “eu” que já existia não era algo a se jogar fora. Era meu passado, meus dias contados mentalmente como uma jornada completamente fora do meu entendimento. Mas que era minha.
Que era passo dado e escolhido por um ser que tanto trabalhara para ser “eu”. E que agora queria ser “mim” também.
E esse “mim”, que também precisava entrar no “eu” para que então eles se tornassem “nós”, era aquilo que fluía em meu peito, e que entretanto eu não deixava existir. “Mim” é tudo aquilo que faz doer, pois mantenho aprisionado, enclausurado, como se o “mim” não fosse parte do eu também.
Contudo, como seria possível abrir as portas desse “mim” se já tinha perdido a chave, o pedaço de metal (ou de amor) que trancava este sujeito dentro de mim? Como seria possível libertar aquilo que era parte do “eu”, mas que o próprio “eu” não deixava ser “mim” também?
Seria possível “eu” e “mim” coexistir?
Não faz muito tempo que estive pensado sobre este encontro. 
Não faz muito tempo que venho pensando na possibilidade de “nós” fazer parte da minha vida. De inteirar-me.
Não faz tanto tempo que venho planejando esta soma, esta fusão dos dois sujeitos, das perfeitas metades que se necessitam.