quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PAUL E MARRIE - CAP 3: O NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO




Quando cheguei à porta da cafeteria de Sr. Brian para buscar Marrie, deparei-me com os dois sentados e rindo a respeito de algum assunto que conversavam. Nunca vira antes desse dia Sr. Brian sorrir alguma vez.

Havia alguma coisa no olhar de Marrie, ou no modo como conversava om as outras pessoas, que fazia com que surpresas acontecessem todos os dias, por onde quer que passasse. Naquele dia eu não era capaz de compreender, mas depois entendi que Marrie era tudo aquilo simplesmente porque não usava máscara alguma. Não precisava. Não havia espaço naquele rosto recém-operado para fingimento qualquer. Marrie só precisava ser ela mesma.

Da entrada em meu carro até a chegada no restaurante, não trocamos uma palavra sequer. Queria muito lhe perguntar como conseguira tão rápido aquele emprego, ou como fora capaz de fazer Sr. Brian sorrir, porém não o fiz. Tinha medo do que aquela pequena mulher iria me responder. Tinha medo porque sabia que Marrie jamais seria apenas uma namorada de aluguem em minha vida até que David se divorciasse. Entretanto, prefira não assumir para mim mesmo o que estava prestes a acontecer.

Ao sentarmos na mesa que reservei, logo fiz o pedido de nossos pratos, pois Marrie preferira não escolher. Não consigo lembrar-me do que comemos naquele dia, estava tão desconfortável com aquela situação que suava frio, só por estar de frente para aquela pequenina mulher.

Marrie começou a rir.

- Sr. Paul, pelo modo que está se comportando, parece que quem está pela primeira vez em um restaurante é o senhor!

- É que eu não esperava que você fosse conseguir o emprego tão rápido... - Marrie olhava atentamente para os meus lábios, como se estivesse tentando lê-los antes que pudesse me ouvir. -... e agora não sei por onde começar.

- Comece por hoje, Sr. Paul. Comece contando-me como foi seu dia.

- Não creio que esteja interessada em saber sobre cirurgias, Marrie. -não quisera soar arrogante com aquela frase, todavia, assim fora.

- Muito pelo contrário, Sr. Paul. Li sobre cirurgias desde o dia em que Mr. Richard me adotou. Elas são o meu hobby.

Um arrepio subiu pela minha nuca após ouvir Marrie dizer "hobby" e "adotara". Por que motivo uma mulher tão doce como a que estava diante de mim fora parar em um bordel? E como era ela capaz de referir sua relação com o seu cafetão como uma adoção?

Sem perceber, já estava contando como fora meu dia, como era minha família, e como era meu relacionamento com David. Muito mais que qualquer cordialidade, Marrie realmente parecia se interessar por tudo aquilo que lhe contava, tanto que sequer tocamos em nossas comidas quando estas chegaram.

Marrie também revelou-me que fora ela quem cuidara de Mr. Richard após a cirurgia que fizera nele tempos atrás.

- Você fez um bom trabalho, Marrie. -elogiei-a com um sorriso.

- Não, Sr. Paul. Você fez um bom trabalho. Eu apenas o mantive. Você é literalmente um "anjo-doutor". Um anjo. E um doutor.

Muito desconcertado, explicara a Marrie que anjos não tentavam destruir casamentos, e que não se apaixonavam por pessoas do mesmo sexo, quem dera operavam cafetões na surdina da noite.

- Sr. Paul, anjos não precisam ter asas, nem fazer milagres para se tornarem tais. Para ser um anjo, basta que não exista regras e limites em seu amor ao próximo. E o senhor é assim.

Seus olhos brilhavam ao falar comigo, como se realmente fosse muito grata pelo dia em que salvei a vida de Mr. Richard. Se não fosse pelo termo "adotou", suspeitaria que os dois já tivesse tido um caso. Ou assim queria que fosse a verdade, para que conseguisse enxergar uma qualidade que fosse a menos naquela mulher.

Conversamo ainda mais. Ou melhor, eu me abrira para ela. Contara de meu problema de insônia que estava vivendo desde quando para de fumar, sobre o motivo pelo qual escolhera a Medicina, entre tantas outras coisas que já me falham a memória.

Pedi então a conta e fomos embora para "seu" apartamento. Combinara com David para que ele fosse até lá conhecê-la.

Marrie não levara um móvel sequer para o apartamento que lhe entregara. Tudo estava da mesma maneira que havia deixado, não fosse pelos inúmeros vasos de flores que ela espalhara por ali. Dera ao meu lar um toque de mulher. Um toque de uma mulher que ainda amava flores.

Sentei-me no sofá, à espera de David, que a qualquer momento estaria por vir. Contudo, mal se passaram cinco minutos e eu já estava adormecido por ali.

Acordei assustado, já de manhã, e para minha surpresa, estava coberto por uma colcha, também de flores. Marrie estava tranquilamente preparando o café.

- Por quê você não me acordou? -perguntei, espreguiçando.

- Porque David não apareceu ontem à noite, Sr. Paul.

- Você deve estar me achando um maluco, não é? ontem mesmo disse que estava com problemas para dormir, e mal já cheguei aqui e adormeci no sofá. - sorri, envergonhado.

- De maneira alguma, Sr. Paul. Estou feliz que tenha encontrado um lugar onde possa se restaurar em paz. Venha, preparei-lhe um café da manhã.

Queria ligar para David, estava nervoso porque não aparecera na noite anterior e nem sequer me avisara. Já não era a primeira vez que ficava esperando por ele ao longo da noite. A diferença é que desta vez eu dormira. Em paz, como Marrie havia dito. Sabia que precisávamos conversar sobre isso seriamente, e sobre muitas outras coisas.

Entretanto, ao levantar-me do sofá, não fui em direção ao meu telefone.

Primeiro queria tomar café com Marrie.

4 comentários:

  1. Sensacional a cadência em que a história se desenvolve, gata.

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  2. Seus textos sempre me dão vontade de MAIS!!!!
    Agora esperar as próximas quartas!
    =)

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  3. NEGA, ESTOU AMANDO O ROMANCE...REALMENTE VOCÊ CONSEGUE CRIAR EM NÓS, SEUS LEITORES, A EXPECTATIVA...O QUE VEM POR AÍ? ENVOLVENTE E DELICADA TRAMA...E ABORDANDO UM TEMA DELICADO VOCÊ CONSEGUE MANEJÁ-LO LITERARIAMENTE COM MUITA ÉTICA E RESPEITO...SENSACIONAL! ATÉ QUARTA! BEIJOOOOOS

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  4. Mais curiosa que antes pelo próximo capítulo :)

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