Habita dentro de mim um sussurro que ainda não consegui decifrar qual mensagem vem me trazer. Como se meu corpo diariamente me enviasse um recado em um língua que não fosse humana.
É que dentro de mim mora uma serpente, que é ser de espessura fina, sem pernas, sem mãos, leve e silencioso, capaz de passear pelo meu corpo inteiro, conhecendo plenamente cada parte de mim.
E esta serpente precisa me contar algo. Já cansou de percorrer o meu metro e alguma coisa e agora quer conversar sobre o que desvendou.
Mas esta serpente ainda não aprendeu a falar a língua dos homens. Este réptil só consegue sussurrar. Sussurro agonizante, que é o barulho de sua língua colocando-se para fora, sentindo a temperatura do ambiente, sentindo o calor que é viver dentro de mim.
Contudo, pouco importa para a serpente quantos graus fazem ali de fora, "ali de fora" que é o "dentro de mim". Pois dentro da serpente é sempre frio. Um frio molhado, como a brisa que vem na madrugada apenas para mostrar o quanto a cidade está vazia.
Frio este que a serpente sussurra para mim. Porque mesmo ao caminhar no calor, com os pés nus deixando-se queimar pela areia transformada em brasa, quando a serpente quer sussurrar, o meu corpo gela.
Gela de tal maneira que o suor que escorre pelas minhas costas é frio, derretendo-se na pele quente, fazendo da cabeça aos pés arrepiarem-se.
O sussurro da serpente é o medo que tenho de mim. É o calafrio que surge só de pensar no que ela tem para me contar. O calafrio é o medo de mim. É medo de serpente e medo de ser humano também. Porque sou os dois.
E se não entendo o seu sussurro, compreendo o sentimento, a sensação que ele transmite: de quem manda em mim. De quem domina, quem hipnotiza.
Fecho meus olhos para escutar melhor este sussurro: é hora de perde o medo deste calafrio. É hora de deixar-me ser serpente para saber como é ser aquela que causa arrepios com a sua presença. Ser a dona de um olhar tão seguro que é capaz de hipnotizar, capaz de tomar para si presas muito maiores que o seu tamanho.
No anseio de não mais sentir calafrios, e sim transmiti-los, fechei os olhos para que pudesse me comunicar com o réptil que me habitava.
E ao me concentrar, uma surpresa! Consegui ouvir o que a serpente sussurrava para mim. Ela dizia:
"Deixa-me ir... Deixa-me ir, pois algo está se esquentando de tal maneira que me queimará por inteira. Não há espaço para nós dois aqui."
"Quem é este, serpente? Que sem luta, sem medo, e só com o calor conseguiu te expulsar do meu corpo?"
"É o seu coração."

LINDO, NEGUINHA! AVANTE COM SUA LITERATURA! JÁ SOU SUA LEITORA CATIVAAA! BEIJOOOS
ResponderExcluirMINHA FILHA LINDA , PROFUNDO.... LINDO ..... SIGNIFICATIVO ,,, BEIJOS, MAMAE
ResponderExcluirrealmente as palavras tem um conteúdo muito profundo, tem um significado profundo, é palavras de conteúdo eterno que estão a nossa volta, que não pode desaparecer.meus parabens.
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