quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

PAUL E MARRIE - Cap. 15: PRESENTE PARA MARRIE

(FOTO: http://www.flickr.com/photos/w610guy/2566232322/sizes/z/in/photostream/)


Marrie estava ali, sentada e nua na cama, olhando para meu rosto sem dizer nada, esperando que eu acordasse naturalmente. Ao abrir os olhos e ver no relógio que já se passavam das 9 da manhã, disse para aquela pequena mulher, enquanto levantava e procurava minha cueca no chão:

- Desculpe-me, Marrie. Acho que dormi demais e acabei perdendo a hora.

De costas para ela, vestia a calça amarrotada com pressa não perder o compromisso que eu com certeza inventaria que tinha. Ainda não era capaz de assumir para mim mesmo que era feliz acordando ao lado daquela mulher.

- Hoje é meu aniversário, Sr. Paul. –disse suavemente Marrie, ainda olhando para mim.

Estava prestes a fechar o zíper quando a ouvi dizer aquilo. Virei de frente para ela e a observei com cuidado. Era no dia 27 de Maio que aquela pequena e ruiva mulher faria seus 25 anos.

Em seus olhos escuros continham um sentimento guardado, banhado pelas lágrimas que não escorriam e não me deixavam entender o que estava acontecendo. Eu não sabia como lidar com Marrie revelando aquilo que era importante para ela a mim, e muito menos ainda sabia como lidar com aqueles olhos esperançosos, em busca de algo meu. Não podia decepcionar Marrie naquele dia.

- Você quer que eu dê um passeio com você? –sugeri, voltando a fechar a braguilha.

- Faria isso por mim, bonitão?

- Hoje é seu aniversário, Marrie. Você merece. –respondi, um pouco rouco.

Marrie foi tomar banho e não me convidou para acompanhá-la. Também não a segui, por mais que fosse a minha vontade fazer. Apenas deitei-me de novo na cama e olhei o tempo pela janela. Tempo este que me ajudava incrivelmente. Chovia forte, quase uma chuva branca de tão forte, tornando-se assim impossível de fazermos um passeio a pé, o que levaria mais tempo.

Entretanto, Marrie demorou no banho, e quando saiu, a chuva já havia parado por inteiro. Senti um certo desgosto quando ela comemorou a mudança de tempo, porém, não disse nada. Apesar de meu desconforto, da vontade de voltar para a casa de meus pais antes de começar um novo plantão no hospital, minha sugestão já fora feita e eu cumpriria com a minha palavra.

Saímos de seu apartamento sem trocar palavras. Marrie arrumava o cabelo olhando no espelho do elevador como se estivesse indo para alguma festa ou evento importante. Trajava um vestido bonito, simples, que caía bem em seu corpo se deixar transparecer qualquer vulgaridade.

- Espero que não se importe de andar a pé.

- Não me incomodo com nada, bonitão, contanto que eu ganhe um presente de você.

- Presente?! –disse eu, surpreso e rindo ao mesmo tempo. – O que você quer? É só me pedir e nós compraremos hoje mesmo.

- Ainda não sei, Sr. Paul. Enquanto passearmos por algumas lojas eu escolho alguma coisa.

Tomamos café-da-manhã na lanchonete do hospital e iniciamos o nosso passeio que durou o dia inteiro.

Levei Marrie à várias joalherias, lojas de roupas, sapatos, móveis e decoração, contudo nada parecia interessá-la. Enquanto andávamos pela cidade, Marrie dava risada das histórias que me contava sobre o bordel de Mr. Richard e sempre que nos aproximava-nos pedia minha mão com os seus dedos, olhando-me nos olhos.

Aos poucos, fui deixando as minhas vontades, o amor que explodia dentro de mim falar mais alto, e fui me entregando ao divertido dia que estávamos vivendo. Também ri das história que Marrie contou e, quando ela estava distraída, alisava sua mão com os meus dedos para que sua atenção não saísse de mim. Estava sendo o Paul de Marrie.

Ao final da tarde, Marrie encontrou uma farmácia e disse para entrarmos ali. A princípio pensei que minha menina estava passando mal, sentindo alguma dor em seus machucados. Entretanto, quando a vi mexendo em alguns produtos de beleza, percebi que estava tudo bem:

-O que está fazendo, Marrie?

E então, com um vidro cor-de-rosa nas mãos, Marrie, encantadoramente linda, disse, sorrindo:

-Este, eu quero este daqui de presente.

-Marrie, mas isto é apenas um xampu... –retruquei, abismado.

-Um xampu que usarei apenas em ocasiões especiais. –respondeu ela, acarinhando meu rosto.


Enquanto meus pais exigiam-me casado, enquanto meu emprego exigia-me cirurgias cada vez mais perfeitas e rápidas, enquanto o mundo exigia-me saudável, alegre, fiel, esperto, inteligente, eclético, consumista, esportista, bem-sucedido, rico e heterossexual, Marrie, minha pequena e grande Marrie, queria apenas um xampu de mim.

Um comentário:

  1. Como sempre , delicado texto ...vc tece cada momento como quem tece fios de tricot....cada dia fica mais bonito ....Elza Hermínia

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