quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

PAUL E MARRIE - Cap. 14: VOLTANDO PARA O APARTAMENTO

(FOTO: http://www.flickr.com/photos/maritzasoto/1470787668/sizes/z/in/photostream/ )


Acordei com dores nas costas, nos braços e no pescoço. Dormira na poltrona que ficava ao lado da cama de Marrie no hospital. Apesar de ferimentos superficiais, como batera a cabeça, e também como se tornara a nova “queridinha” do hospital, Marrie passara a noite por ali, em intenção de observação.

Sr. Brian aparecera no dia anterior, um pouco antes de Marrie adormecer, e estava inconsolável. Chegou chorando ao quarto e só parou de soluçar quando Marrie esticou seus braços para abraça-lo e lhe disse: “Venha cá, meu meninão, está tudo bem comigo.”

“Está tudo bem.” Ouvi aquela pequena mulher dizer por mais de cinquenta vezes aquela frase durante o dia, e como era engraçado o fato de que aquela voz somada àquelas palavras fazia com que não somente Marrie se sentisse melhor, mas a cada um que entrava naquele quarto.

Eu não sabia dizer se realmente estava tudo bem com Marrie. A única certeza que tinha era que eu estava me sentindo feliz porque ela tinha forças para dizer que estava tudo bem. E para mim, aquilo bastava.

Fomos embora do hospital diretamente para o meu apartamento, pois ficara decidido que enquanto a reforma da cafeteria de Sr. Brian não ficasse pronta, consertando os estragos do “assalto”, Marrie deveria dormir em um local mais seguro. E eu sugerira como opção o meu apartamento.

Foi um pouco estranho quando chegamos por lá, já que a última vez que estivemos juntos naquele lugar não terminara bem. Tentei melhorar o ambiente colocando uma música, mas nada parecia tirar do ar a sensação de medo que estava em Marrie. Ela temia por ter que ir embora mais uma vez.

- Espero que a cafeteria fique pronta logo, bonitão... Não quero me acostumar por aqui de novo.  – dizia Marrie, enquanto passeava os dedos pela bancada de granito da cozinha.

- Você pode voltar a morar aqui se quiser.

- Eu posso... ou eu devo? – virou-se em minha direção, com os lábios entreabertos.

- Eu acho que você deveria voltar a morar aqui, Marrie. – respondi, sorrindo, tirando os óculos do rosto.

- Sr. Brian jamais aceitaria, bonitão. Eu morando dentro da cafeteria posso trabalhar muito mais.

- Você sabe que você não precisa disso, Marrie...

- Não preciso do quê? De um trabalho?

- Não, Marrie, eu quero dizer que você sabe que você pode ser algo bem melhor que uma mera garçonete da cafeteria do Sr. Brian. Você tem potencial.

- E o que seria algo bem melhor que uma garçonete, Sr. Paul? – Marrie estava agora bem perto de mim, fitando-me. – Seria ser como o Dr. David? Médico, chefe, professor? Seja mais claro por favor...

- Desculpe-me, Marrie, eu não quis...

- Porque se for isso, Sr. Paul, - interrompeu-me com carinho. – se eu precisar ser o que ele é, ou parecida com ele, quem lhe pede desculpas sou eu, pois prefiro continuar sendo exatamente como sou: garçonete da cafeteria do Sr. Brian. Não sei se “melhor” se encaixaria bem em mim.

E foi então que tudo aconteceu: Mr. Richard, amparado por mais três homens, arrombou a porta de meu apartamento e em questão de segundos me derrubou no chão. E antes que eu pensasse em como teriam eles entrado no edifício, levei um soco que me fez tontear.

- Seu merdinha do caralho, tá achando que é brincadeira, moleque? Você vai aprender a não se mexer com o cafetão desta cidade! – disse Mr. Richard enquanto desferia chutes nas minhas costelas. Eu até poderia mexer e tentar revidar, mas os outros homens estavam ao seu lado, prontos para me segurarem se necessário fosse.

- Meu pai, não faça isso com o Sr. Paul! – implorou Marrie, tentando se aproximar, e sendo impedida por um dos grandalhões.

- Não se meta, Marrie... isto é um assunto de homens! E este moleque de merda aqui era responsável pela sua segurança, e bastou alguns dias naquela porra de cafeteria para que você fosse assaltada, agredida, isso eu não posso admitir! E este vagabundo metido a médico do caralho aqui vai apanhar, SENDO ANJO OU NÃO! – Mr. Richard berrava e me chutava com uma sincronia absurda e insuportável.

- Pai, por favor... – continua Marrie tentando se aproximar.

- Marrie, ACORDA! ESSA BICHA NÃO AMA VOCÊ E MERECE APANHAR ATÉ TER AS TRIPAS PARA FORA DO CORPO! ESTE INFELIZ QUE ASSALTOU A CAFETERIA QUASE PARTIU VOCÊ NO MEIO! IMAGINA SE ELE TIVESSE FODIDO VOCÊ, MARRIE! ELE IA TE PARTIR NO MEIO! EU AINDA VOU ACHAR ESTE DESGRAÇADO TAMBÉM!

- Pai, ele pode ter tentado me partir no meio, mas ele não conseguiu. Mas se o senhor continuar batendo assim no Sr. Paul, vai partir meu coração. Eu imploro. – Marrie já estava ajoelhada e de cabeça baixa. – Se o senhor estiver com muita raiva e não conseguir se controlar, por favor, desconte em mim. Eu não me importo em ser o seu saco de pancadas.

Mr. Richard parou com a sequência de chutes e observou Marrie por alguns segundos. Suas mãos começaram a tremer e uma lágrima escorreu pelo seu rosto:

- Santo Deus, como é que eu posso gostar tanto de você? – Mr. Richard caiu no chão aos prantos e abraçou Marrie com carinho. – Eu não me perdoaria se algo de ruim lhe acontecesse, Marrie.

- Está tudo bem comigo, Pai. Meu namorado vai curar meus machucados até eles sararem.

- Seu namorado? – perguntou Mr. Richard, perplexo.

- Sim, Pai, o Sr. Paul não quis mais ser homossexual. Agora ele quer ser meu. – Marrie sorriu com inocência.

Com uma expressão de dúvida, Mr. Richard se levantou e foi até minha direção mais uma vez. Ainda estava deitado no chão.

- Merdinha de anjo do caralho, vou lhe dizer uma vez só: ou você protege a minha Marrie daqui para a frente, ou eu vou lhe encontrar, não importa aonde você estiver, e vou acabar com você, vou matar você e vou ressuscitar você só para ter o prazer de te matar de novo. Babaca de merda! – disse Mr. Richard, enquanto me deu o último chute e saiu pela porta arrombada.

Os demais grandalhões beijaram a mão de Marrie, que retribuía os beijos com abraços apertados e um sorriso de amor. Ela também era a “queridinha” deles.

Após todos saírem, com um pouco de dificuldade, desloquei uma cômoda até a porta, para que a mantivesse fechada enquanto estávamos no apartamento. E ainda de costas para a sala, conversei com a Marrie:

- Eu me enganei, Marrie, eu me enganei. Não tem como você ser melhor do que você já é. Na verdade, quem deveria ter apelido de anjo aqui deveria ser você.

- Não sei não, bonitão... Às vezes eu também me comporto como uma menina má.

E quando voltei-me de frente para a sala, vi que Marrie estava em pé e completamente nua, à minha espera.

É, realmente estava tudo bem com ela.


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