(FOTO: http://www.flickr.com/photos/gkom/5877580901/sizes/z/in/photostream/)
Quando acordei na manhã seguinte, não fazia a menor ideia do
que estaria por vir, nem tampouco Marrie. Também não fazia a menor ideia de
como conseguira dormir na noite anterior, pois se jamais me imaginara tendo a
coragem e frieza para matar um homem literalmente com as minhas mãos, que dirá
ainda poder dormir depois de todo o ocorrido. Mas fora assim, meu caro leitor,
eu conseguira dormir perfeitamente naquela noite, e só anos depois fui capaz de
entender que só dormira naquele dia porque tinha a plena certeza de que Marrie
e eu estávamos seguros. Não havia mais “ele”. Éramos agora apenas “eu” e “ela”.
Pena que mais uma vez este relacionamento perfeito duraria tão pouco.
Marrie ainda estava deitada da mesma maneira que na noite
anterior, nua e com a tatuagem exposta. Passeei meus dedos cuidadosamente pela
arte em tinta, no desejo de sentir o seu relevo sem despertar a minha mulher.
Todavia, Marrie já se encontrava acordada:
- Me perdoa por ontem, bonitão. Eu não devia tê-lo deixado
aqui, da maneira como fiz. Mas eu precisava ir até o estúdio e fazer esta
tatuagem. Pois quando me dei conta de tudo o que você fizera, Paul, eu sabia
que eu precisava marcar você em minha pele assim como “ele” um dia se marcou em
mim. Porque você vai me deixar também. – Marrie virou-se de frente para mim, e
mais uma vez eu vi aquela mulher, com aqueles longos e ruivos cabelos, chorar
enquanto conversava comigo.
- Marrie, isto não vai mais acontecer, eu já lhe prometi.
- Paul, você não entendeu ainda o que aconteceu: eu tenho
certeza que o Dr. David irá denunciá-lo, e então estará tudo acabado. Você vai
responder a um processo, e quando chegar a hora final, você vai ter que
escolher, bonitão, se você ama mais a esta mulher que até ontem era uma
prostitua ou se você ama mais a sua carreira. Seu pai falou certo, Paul,
infelizmente não haverá maneira de você ter ambas ao mesmo tempo.
Entreolhei Marrie por alguns instantes e não lhe respondi
nada. Fizemos amor como nunca havíamos feito antes. Era como se todos os meus
atos fossem apenas a prévia de nossa despedida. Não fechei os olhos por um
segundo sequer.
Não era meu dia de fazer plantão, mas estava claro que
precisava voltar ao hospital para verificar como as coisas estavam, e
principalmente conversar de maneira mais branda com David. Eu precisava lhe
implorar este favor. Não podia ser denunciado pela morte de “ele”, pois a meu
ver, não fizera mal algum. É claro que tinha plena consciência que
assassinara a sangue frio um homem indefeso que precisava ser operado, mas a
meu ver, meu caro leitor, nem sempre a morte é algo ruim. Ruim seria o que
estava por vir.
Marrie tentou pegar a minha mão enquanto caminhávamos até o
hospital, contudo sem conseguir receber um singelo gesto de afeto de mim.
Estava muito preocupado e tremendo demais para conseguir andar de mãos dadas com aquela pequena mulher.
O hospital estava repleto de policiais, seguranças e pessoas
da imprensa tentando adentrar no recinto. Senti-me muito mais aliviado quando
Marrie eu passamos despercebidamente por eles, sensação esta que não durou mais
que alguns segundos, pois assim que entramos no hospital, vi ao final do
corredor meu e pai e minha mãe sentados, provavelmente já à minha espera.
- Paul, meu filho, - disse meu pai, abraçando-me com força. –
eu sei que nós estamos muito distantes um do outro, mas ninguém irá abandoná-lo
neste momento difícil. Sua mãe e eu viemos aqui busca-lo para que você fique em
um local seguro até que tudo isto se resolva.
- Lugar seguro?! – exclamei, incrédulo.
- Não sabia que esta puta, além de o seu juízo, também
tivesse roubado a sua inteligência. – os olhos de minha mãe brilhavam de ódio. –
Você passou dos limites por esta mulher, Paul!
- Eu não estou entendendo nada sobre o que vocês estão me
falando.
- Ficou sonso também, filho? Porque, pelo o que eu saiba,
ontem a tarde você matou um homem dentro deste hospital por conta da vagabunda
que você levou para morar você. E se não bastasse você ter cometido um crime
dentro do seu local de trabalho, você fez questão de caprichar na escolha da
vítima: o criminoso mais procurado desta cidade! Então faça-me o favor de calar
a boca agora e nos obedecer! Precisamos ir embora daqui antes que alguém te
encontre e faça algum mal a você. Por pior que você tenha se tornado, você não
deixou de ser meu filho.
- Como vocês estão sabendo de tudo isso? E tão rápido?
- Ora, Paul, graças a Deus, o seu amigo David não ficou com
raiva de você pela forma como você o tratou naquele dia. Ele é seu amigo de
verdade. Assim que o Conselho Federal de Medicina o contatou para lhe informar
da sua denúncia, ele na mesma hora nos ligou para que pudéssemos encontrar um
lugar para lhe esconder.
- CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA? – meu coração começara a
disparar.
- Sim, Paul, o David disse que a mesma pessoa que o
denunciou à polícia também o fez ao Conselho Federal de Medicina. Não se
preocupe, pois nós iremos resolver tudo isso...
- Mãe, será que você não percebe?! FOI O PRÓPRIO DAVID QUE
ME DENUNCIOU!
- Olha, Paul...
- NÃÃO!
E tudo aconteceu em um segundo.
No meio de minha discussão com meus pais, Marrie gritou em
desespero. Nós três, conjuntamente, viramo-nos em sua direção para ver o que
estava acontecendo. Já era tarde demais.
Um homem encapuzado apontava uma arma em minha direção e não
pensou duas vezes ao dispará-la. Nem ele e nem Marrie pensaram duas vezes, porque a
minha pequena mulher jogou-se na minha frente para receber as balas que iriam
me atingir.
Rapidamente policiais o imobilizaram, todavia, não antes que
Marrie fosse atingida. Estava caída no chão, acordada, e gemendo de dor. Ao
olhá-la superficialmente, sabia que não iria morrer, mas precisaria de cuidados
médicos urgentes.
- DESTA VEZ, “DOUTOR-ANJO”, DEUS CONSEGUIU TE SALVAR. MAS NA
PRÓXIMA NÃO VAI TER UM RABO DE SAIA PRA TE PROTEGER NÃO. TU É UM CARA MORTO A
PARTIR DE AGORA. – disse-me o homem enquanto era levado pelos policiais para
fora do hospital.
Fingi não ouvir o que ele disse e comecei a examinar Marrie:
- Vai ficar tudo bem, Marrie. Respira fundo.
- Desculpe-me, Dr. Paul, mas como existe uma denúncia em seu
nome, que inclusive já está com quase todo o material pronto, pois desde ontem
a noite os policiais estão aqui, examinando o corpo e conferindo se as digitais
que existem nele batem com o seu cadastro de DNA aqui do hospital... – David sorria
maliciosamente enquanto cuspia a notícia para mim. – Mas como estava dizendo,
como você é suspeito de um crime de homicídio, infelizmente você não pode mais
exercer sua profissão de médico neste hospital. E nem em lugar nenhum. Vamos,
Lydia e Roberto, coloquem esta mulher na maca. Hoje quem vai cuidar dela sou
eu.
Antes que pudesse responde-lo, minha mãe me disse:
- Paul, escute o seu amigo David. Eles vão tomar conta da
sua namoradinha. Agora você precisa ir embora. Você viu o que acabou de
acontecer? Tem muita gente que quer você morto, meu filho, escuta a sua mãe
pelo menos uma vez nesta vida! Vamos embora enquanto ainda há chance... Temos o
lugar certo para você.
- Eu não vou deixar Marrie nas mãos do David. Eu vou para a
sala de cirurgia agora. A minha mulher precisa ser operada.
- Não, você não vai, Dr. Paul. Nem por cima do meu cadáver.
Não vou arriscar a reputação deste hospital por um mero capricho seu. Quem vai
operar a sua mulher hoje sou eu.
- Paul, vamos embora, meu filho, largue de teimosia, ela vai
ficar bem. – minha mãe tentava me agarrar pelo braço, sem obter sucesso algum.
- EU NÃO VOU DEIXAR MARRIE AQUI! ELA FOI BALEADA!
- Bonitão, - os olhos de Marrie estavam vermelhos. – você precisa
ir embora. Você precisa se esconder até chegar a hora do seu julgamento, você
precisa se esconder... Eu vou encontrar você depois que sair daqui.
- É, Paul, assim que ela sair deste hospital a levaremos
para onde você for ficar. – disse meu pai, em tom animador. – Agora vamos.
Eu não sabia o que fazer além de chorar naquele momento.
Marrie já estava sobre a maca, sendo levada para a sala de cirurgia a qual eu
não poderia entrar e acompanhar, e então ela estaria sozinha nas mãos de David.
Eu também não sabia do que ele era capaz de fazer com ela, muito menos o que
sucederia nós próximos dias. Eu só conseguia chorar.
E covardemente, chorando, coloquei os óculos escuros de meu
pai, cobri a cabeça com um boné que ele trouxera, e saí pelos fundos do
hospital para fugir. Mais uma vez.

JÁ ESTOU IMAGINANDO O PROXIMO CAPITULO .... MIL BJOS , MAMAE
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