(LEIA O OITAVO CAPÍTULO EM: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013/12/paul-e-marrie-cap-8-hora-de-ir.html )
Eu gostaria de dizer a você, meu caro leitor, que imediatamente após sair do apartamento, senti-me arrependido e voltei atrás em minha decisão. Mas infelizmente não foi assim que as coisas aconteceram.
Quando cheguei em casa, fui direto para o banheiro tomar banho. Sentia-me sujo, impregnado pela energias e cheiros que aquela pequena mulher deixara em mim. Esfregava a esponja em meu corpo com força, na tentativa de apagar tudo o que fizera naquela tarde.
Todavia, enquanto a água do chuveiro escorria pelos meus cabelos, atravessando-os, diluindo o xampu e me fazendo fechar os olhos, só conseguia pensar em Marrie.
Só conseguia pensar em Marrie e na brisa que entrara no banheiro, fazendo com que as lágrimas que estavam presas em seus olhos escorressem rapidamente pelo seu rosto. "Mas o que foi que eu fiz, Sr. Paul?" Era a pergunta que martelava meu cérebro. E punia meu coração.
E por incrível que pareça, mesmo com todos aqueles pensamentos me atordoando, fazendo me sentir tão culpado, e tão pouco "Doutor-Anjo", não tive nenhum pesadelo e nenhuma dificuldade para dormir naquela noite. Meus problemas começaram assim que despertei.
A chave de meu apartamento estaria à minha espera na cafeteria de Sr. Brian, assim como eu requisitara no dia anterior. E Marrie estaria de volta a sua vida no bordel de Mr. Richard. Seria como se nada tivesse acontecido, como se esses dias vividos fossem um doce e ilusório sonho do qual eu tivesse acabado de acordar.
Minha cabeça estava muito confusa. A ideia de não ver mais o rosto de Marrie me deixara de mau humor. Enquanto seguia para a cafeteria, pensei que talvez, um dia, daqui a algum tempo, eu pudesse ir até o bordel de Mr. Richard visitar Marrie. Apenas para conversar e vê-la sorrir, daquele jeito que só ela sabia fazer. Afinal, poderíamos ser amigos.
"Então somos mais que amigos, bonitão."! Era como se minha própria mente respondesse-me o quão absurdo era eu usar a desculpa da amizade para alguém que jamais poderia ser minha amiga. Seríamos para sempre algo além disso.
Adentrei a cafeteria cabisbaixo, tornando minha surpresa ainda maior: Marrie estava ali, com outro vestido de flor, andando para lá e para cá com uma bandeja na mão, enquanto distribuía pães e cafés aos fregueses.
Cumprimentei-a a friamente com um aceno de cabeça, e esperei que viesse até o meu encontro para que ela me desse as devidas explicações. Mas antes que eu pudesse perguntar-lhe qualquer coisa, Marrie entregou-me um envelope escuro, enquanto dizia:
- Sr. Paul, conforme o combinado, aqui estão as chaves de seu apartamento, e assim como o senhor requisitou, não há mais nenhum pertence meu naquele recinto. Caso o senhor deseje devolução de parte de seu dinheiro, deverá tratar deste assunto diretamente com meu pai, Mr. Richard.
Aquilo me surpreendera. Não poderia dizer se Marrie havia decorado aquela frase na noite anterior, ou se simplesmente fluíra de forma espontânea naquele momento, mas Marrie o fizera com perfeição. Apunhalara-me com força, e agora já estava pegando de volta sua bandeja para voltar ao trabalho.
- E por fim, Sr. Paul, muito obrigada por estes dias. Foram os melhores de minha vida.
Sentira-me mais apunhalado ainda, pois sabia que assim que Marrie passasse por mim com aquela bandeja, não conversaríamos mais. Segurei, então, seu braço, para que não voltasse ao trabalho. Não antes de ouvir um pouco mais a sua voz:
- Pensei que você fosse voltar para a casa de Mr. Richard, Marrie. - era incapaz de chamar, em voz alta, de bordel o lar daquela pequena mulher.
- Não, Sr. Paul. Eu nunca tive uma vida de verdade, com trabalho, amigos, "mais que amigos" - Marrie encarara-me com seriedade -, e nem um lugar onde pudesse plantar as minhas flores. Não sei o que o senhor pensa a meu respeito, mas nunca trabalhei para meu pai por prazer. Eu só trabalhei ali por devoção.
Arregalei os olhos e fui tentar explicar que não era isso que eu estava tentando dizer, porém, Marrie não me deixara começar:
-E meu pai é um homem bom, Sr. Paul. Ele me ama muito. Assim que pedi para ficar, ele consentiu! E depois inventei para o Sr. Brian que não estava conseguindo pagar meu aluguel mais, e ele permitiu que eu morasse aqui na cafeteria, no quartinho dos fundos, desde que trabalhasse duas horas a mais por dia. Não se preocupe, Sr. Paul. Isso não tem mais nada a ver com o senhor.
Não conseguira controlar a risada de ironia. "E meu pai é um homem bom, Sr. Paul." O quão inocente poderia ser Marrie?
- Qual a graça, Sr. Paul? - indagou-me friamente Marrie.
- Você realmente acha que Mr. Richard ama você?
- E estou errada?
- Mas é claro que sim, Marrie! - exclamei, soltando o seu braço.
Marrie colocara a bandeja sobre o balcão, e sentara-se ao meu lado., virando o banco para ficar frente a frente comigo:
- Explique-me então, Sr. Paul, como tudo seria se ele me amasse de verdade.
- Será que você não percebe, Marrie? Se ele realmente amasse você, ele jamais deixaria você trabalhar naquele lugar horrível, naquele bordel, jamais! Ele não permitiria que nenhum mal lhe acontecesse, ele lhe colocaria no colo todos os dias, e arrumaria um jeito de amenizar os efeitos que essas cicatrizes deixaram em você. Desculpe lhe dizer isso, Marrie, mas este homem só lhe usou.
Observei calmamente os olhos de Marrie encherem-se de água, assim como acontecera no dia anterior, quando estávamos na banheira. Contudo, antes que pudesse confortá-la, Marie me respondeu:
- Sabe, Sr. Paul, o que acabou de me dizer, fala muito mais sobre você do que sobre meu pai.
- Como assim, Marrie?
- Porque se antes havia em mim alguma dúvida, agora não existe mais: você não me ama, Sr. Paul. - continuou Marrie. - Você também me usou e depois esperou que eu voltasse à minha vida de prostituta. O senhor não pareceu se importar com isso.
Marrie apoiou a testa em uma das mãos e disparou a chorar.
- E tem mais, Sr. Paul: Mr. Richard nunca transou comigo. Nunca tocou um dedo sequer em mim. Já escutara algumas vezes por aí que toda mulher se sentia única quando fazia amor com alguém que amasse. Engraçado é que eu não me senti única e nem me sinto melhor agora. Só me sinto mais puta.
E sem dizer qualquer palavra em resposta, apenas saí em silêncio da cafeteria, e segui às pressas para o hospital. Teria um longo dia.
Tive de ouvir durante todo o meu expediente de enfermeiras e médicos o quão sem coração eu era por estar abandonando Marrie. Parecia que todos estava sabendo de nosso término. E todos pareciam me odiar por isso.
Eu sabia que Mr. Richard tinha razão: Marrie era mulher que falava pelas entrelinhas, e que tocava o coração de cada um que passasse, nem que fosse de longe, por sua vida. E estava tudo bem claro agora.
Todos estavam do lado de Marrie, simplesmente porque era impossível não estar. Até eu estava. Eu sabia que tudo o que Marrie me dissera era verdade. Com exceção da parte do "Você não me ama, Sr. Paul."
Enquanto descansava de uma cirurgia, encontrei-me com David:
- Mas que belo teatro vocês fizeram, Dr. Paul! Não se fala em outra coisa neste hospital. - comentou David, sorrindo com o seu cinismo de sempre. - Estou indo para casa agora, mas hoje quando você sair daqui, nós podemos nos encontrar.
Não senti nenhuma alegria ao ouvir o convite de David.
- A que horas nos encontramos, Dr. Paul?
- Às nove.
- Combinado então, às nove passo aqui para te buscar.
Passei o resto da tarde pensando em tudo o que acontecera nos últimos dias. Na conversa com meus pais, nas atitudes de David, no sorriso de Marrie, em suas cicatrizes, no meu encontro com Mr. Richard... Estava pensando em tudo, menos naquilo que tinha vontade de fazer.
E a verdade, era que naquele momento, eu não sabia mais o que eu tinha vontade de fazer, nem em sequer no que havia me tornado. Minha cabeça me atormentava com uma enorme culpa, mas eu já não sabia mais do que era.
Porque se eu fosse um homem apaixonado por David, tudo estava indo para o caminho certo agora. Mas se realmente fosse apaixonado por ele, não teria dormido com Marrie. E se eu fosse apaixonado por Marrie, por que a teria deixado daquela maneira? Quando foi que a minha reputação se tornara mais importante que o meu modo de conduzir a vida?
E por fim: o que cargas d'água estava acontecendo comigo?
Fui liberado mais cedo de meu horário, graças ao meu argumento de não estar me sentindo bem.
Quando saí do hospital, minha primeira visão foi a cafeteria de Sr. Brian. E lá estava Marrie, com óculos escuros, aparentemente dançando, ao lado de Sr. Brian.
Já era por volta de oito horas, e concluí que os dois estavam se divertindo, enquanto limpavam o ambiente. Mesmo sem poder ouvir qualquer som, via de longe que Marrie caíra na gargalhada, enquanto Sr. Brian se mexia de um modo estranho, certamente na tentativa de alegrá-la.
Pensei que aquele sim poderia ser um pai de verdade para Marrie. Que ali ela poderia ter uma vida de verdade, como ela mesmo dissera, com trabalho e com amigos de verdade. E comigo sempre por perto.
E sem perceber, meus pés me levaram não para o meu carro, mas sim para a cafeteria de Sr. Brian. Bati na porta duas vezes até que Marrie, espantada, atendesse:
- O que aconteceu, Sr. Paul?
- Eu vim pedir desculpas a você.

OLÁ, NEGA! MAIS UMA VEZ, ESTOU AMANDO SEGUIR ESTE ROMANCE...ADORO VER A ARTE E A VIDA ENTREMEADOS E VOCÊ TRAZ A VIDA PARA DENTRO DE SUA ARTE REALMENTE...BEIJOOOOS
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