(LEIA O CAPÍTULO SETE EM: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013/12/cap-7-paul-e-marrie-o-milagre-do-fogo.html )
- O quê? – perguntei atordoado, assustado, horrorizado e
principalmente surpreso com esta suposta
visita de David.
- Seu amigo do hospital, filho, o David, passou aqui em casa
agora mesmo, e disse estar muito preocupado com sua reputação. Disse que você
está namorando uma prostituta chamada Maria. – minha mãe tinha os olhos
perplexos de preocupação.
- O nome dela é Marrie. E ela não é uma prostituta.
A última coisa que eu parecia precisar naquele momento era
dar uma satisfação da minha vida social para meus pais. Estava prestes a
explodir de raiva, e de repente senti uma súbita inveja e ao mesmo tempo ódio
da tranquilidade que Marrie tinha. Eu nunca soubera lidar com o ‘bullyng’ que
sofria desde a faculdade, e me tornara um homem de poucas palavras por isso. É,
estava claro agora. Era um homem de poucas palavras porque meu coração doía
demais.
E então, em um belo dia de minha vida aparecia essa mulher,
cheia de cicatrizes espalhadas pelo corpo, que já não me despertavam mais
curiosidade sobre sua origem, que passara na mão de maluco por mais um tempo
que eu também não tinha ciência de quanto havia sido, e por fim trabalhara em
um bordel DE GRAÇA porque resolvera dedicar sua vida a outro maluco que fingira
lhe salvar.
Meu coração batia acelerado. Minhas entranhas ferviam, e
minha vontade era de voltar até aquele bordel e dar uma boa surra em Mr.
Richard. Porque aquele homem jamais salvara Marrie.
Mr. Richard, ao meu ver, apenas assistira de camarote a crueldade
que o tal do “ele” fizera, e simplesmente depois levou o que sobrou de Marrie,
mental e fisicamente, para o seu bordel.
Porque se ele realmente quisesse salvá-la, ele jamais teria
deixado o fogo arder em sua face. Jamais teria observado que a mulher que
estava de mãos e pés atados não chorava no momento, e muito menos na cor dos
seus cabelos. Se Mr. Richard amasse Marrie como eu amava naquele momento, teria
matado o “ele” mesmo que estivesse cercado por seguranças.
E era por isso que negara que Marrie fosse uma prostituta.
Porque para mim, Marrie não o era. E porque ali, diante dos meus pais, só
queria que eles conhecessem o que Marrie tinha de melhor. E comecei a falar:
- Marrie não é uma prostituta. Marrie é apenas uma garçonete
da lanchonete do Sr. Brian, que começou a vida agora... e ainda tem muito a
conhecer.
- Então por que David veio até aqui conversar conosco? –
minha mãe parecia confusa.
- David veio até aqui porque é homossexual. E é apaixonado
por mim. – nunca pensei que contaria a verdade sobre David daquela maneira. Mas
me sentira aliviado por fazer.
- E você, filho? – podia sentir o medo nos olhos de meu pai
pela resposta que poderia dar. Mas não a dei.
Não respondi que também era homossexual e apaixonado por
David. Só conseguia pensar no rosto e no sorriso de Marrie. E no fato de que
nós éramos “mais que amigos”.
- Pai, eu estou apaixonado por Marrie.
- Mas, filho, ela é uma garçonete!
- Pelo menos não é um puta, George! – exclamou minha mãe. –
Seria um desgosto enorme para nossa família você aparecendo publicamente com
uma prostituta. Você é um médico renomado, professor da Universidade, Paul!
Acorda! Eu sinceramente preferia que você namorasse o Dr. David, se fosse o
caso.
- E o que eu sinto, não conta? – parecia um adolescente
rebelde discutindo com meus pais sobre meus sentimentos.
- Ora, Paul, poupe-me desta conversa! Você não tem mais
idade para isso, pense na sua carreira e no seu futuro. Garanto que será melhor
assim. Vou me deitar. – falou Giulia, minha mãe, com lágrimas em seus olhos.
- Resolva o que tiver de resolver com esta moça, Paul. E
depois volte para casa.
No fundo, eu sabia que meus pais tinham razão. E sabia
também que David fizera o certo de ir até lá e falar a verdade. Este plano
jamais poderia dar certo mesmo. Não arriscaria minha reputação de “Doutor-Anjo”
por aqueles ruivos, por aquele “milagre do fogo”.
Decidido, voltei ao meu apartamento. E transei com Marrie.
No chão da sala, na cama de meu quarto, na bancada da pia do banheiro. Sem
dizer qualquer palavra. Apenas entre no apartamento, me despi e transei com
Marrie a tarde toda.
Marrie me beijava e me mordia e eu sabia que ela estava
completamente apaixonada por mim. Ela não fechou os olhos em momento algum. E
não sei se isso era loucura da minha cabeça, ou culpa, mas parecia que
mantivera seus olhos abertos porque sabia que eu iria embora.
Marrie desceu da bancada da pia, ainda trêmula, e ligou o
chuveiro para que a antiga banheira se enchesse de água. Após alguns segundos,
chamou-me:
- Já pode entrar, Sr. Paul.
Não havia um “bonitão” na frase. Marrie sabia que eu iria
embora.
E quando entrei na banheira, Marrie também adentrou,
deitando-se de frente para mim, roçando seus pés em meus ombros e tagarelando
como havia sido colocar flores no túmulo da mulher de Sr. Brian com ele naquela
manhã.
- Marrie, não posso mais continuar com este plano. Eu quero
que você arrume suas coisas e amanhã leve a chave do apartamento para a
cafeteria. Pegarei com o Sr. Brian e você pode voltar para o seu bordel. – a interrompi
da maneira mais fria possível, e retirei seus pés de perto do meu corpo.
- O que foi que eu fiz, Sr. Paul? – uma brisa entrou pela
janela do banheiro e fez com que as lágrimas presas nos olhos de Marrie se
escorressem rapidamente por sua face. O que Marrie fizera para mim? Deveria eu responder-lhe a verdade?
Mas a pergunta que me fazia naquela hora era outra: o que
fazer para tirar alguém do meu coração? E neste ponto, já não se tratava mais
de David. Porque apesar de todos os anos vividos juntos, de tantos segredos
compartilhados, a única certeza que tinha era que não era amor o que eu sentia
por aquele homem. Era qualquer coisa que se aproximava de amor, mas que não era
forte o bastante para se cristalizar como tal.
Porque se fosse amor, eu não o teria deixado de lado para estar
naquela banheira com Marrie. Não teria desligado meu celular para ouvir apenas
a voz da mulher que há pouco contratara para ser minha namorada.
Aqueles olhos de alguém que esperava qualquer coisa de mim
me perseguiam dia e noite, como se de repente tivesse me tornado escravo de uma
situação que eu próprio me colocara. E a questão que ferroava meu cérebro era o
que eu iria fazer para não deixar entrar mais este amor em meu coração.
Seria fácil encontrar uma resposta se estivesse diante de
uma mulher como tantas outras que conhecera no meu passado, mulheres que tanto se
esforçaram para estar ao lado de um homem como eu, mas que no final das contas,
simplesmente desistiam e me deixavam ir embora.
Contudo, o que estava diante de mim, nua e desajeitada como
sempre, era uma menina com os olhos cheios d´água, paralisada sem saber o que
me dizer. Pois Marrie também me amava. Amava-me tanto que me aceitara com a
pior qualidade que um homem poderia ter perante uma mulher, e mesmo assim me
olhava nos olhos com um silencio tão profundo que só me restava dizer que ali,
entre nós, existia amor.
E quem um dia disse que o silêncio era a melhor das
respostas, mal sabia o que se passava com aquela mulher. Porque em meio às
lágrimas, à boca trêmula que não parava de morder, havia a vontade de falar.
Não só de falar, mas também de se declarar, de me abraçar e de me fazer
acreditar que tudo seria possível desde que nós estivéssemos juntos.
Entretanto, eu não estava ali para ser convencido, para ser
tocado, para me descansar e me deixar levar. Eu podia não saber o que estava
fazendo ali, nem sequer saber o que faria para tirar Marrie de meu coração. Mas
de uma coisa eu sabia: não estava ali para me apaixonar.
Saí da banheira com calma e não me dei o direito de sequer
enxugar meu corpo. Vesti minha roupa sem pensar em olhar para o lado e fui
embora.
E esta foi a primeira vez que me afastei de Marrie.

OOOOPA! QUE BOA SURPRESA ESTA. COMO SEMPRE, AMANDO ESTA NOVELA...CAPÍTULO ENVOLVENTE E FAZENDO A GENTE TORCER POR ESTE AMOR!
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