quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PAUL E MARRIE - CAP. 6: O BANHEIRO DE MEU APARTAMENTO




Acordara mais uma vez, assustado, por adormecer ali, no meu sofá, enquanto conversava com Marrie. Levantei, fingindo nada demais ter acontecido, e me sentei para tomar o café.

- Sr. Paul, bom dia.

- Bom dia, Marrie... o que temos para o café? – perguntei, animado.

- Sr. Paul, não me leve a mal, mas acho que antes o senhor precisa tomar um banho. – por mais que Marrie estivesse embaraçada ao me falar aquilo, havia um sorrido sapeca em seu rosto. Marrie sabia que eu estava me apaixonando por ela.

A primeira indagação que passara pela minha cabeça era: “ Mas o que diabos estava acontecendo comigo?”. Como seria possível que eu tivesse me esquecido de um hábito tão essencial como um banho nestes dois últimos dias? Senti vergonha de mim, e também senti vergonha de Marrie, pois aparentemente minha situação já a estava incomodando.

- Você tem razão, eu jamais imaginei que fosse passar tanto tempo por aqui, desculpe-me p...

- Sr. Paul, - interrompeu-me Marrie. – eu não pedi que o senhor fosse embora daqui. Eu apenas sugeri que o senhor tomasse um banho antes de fazer seu desjejum.

“Desjejum”. Podia parecer preconceituoso de minha parte, mas fiquei me perguntando aonde aquela pequena mulher aprendera este dentre tantos outros vocabulários aprimorados. Porque estava claro que Marrie não frequentara escola alguma.

E enquanto eu fazia inúmeras questões mentalmente sobre a vida de Marrie, percebi que já estava me despindo no banheiro, enquanto ela me observava.

- Ora, Sr. Paul, não me olhe com esta cara! – Marrie ria graciosamente, como se tudo aquilo fosse um fato do cotidiano. – Somos uma puta e um gay, o que de mal pode nos acontecer?

A resposta estava na ponta de minha língua: o que eu desejo que aconteça. Que nós dois nos apaixonemos por termos tantas diferenças, e ao mesmo tempo tanta sintonia. Que possamos deixar para trás todos os nossos conflitos internos e viver então uma vida que não lhe causará mais cicatrizes. Nem em seu corpo, e nem em seu coração.

Todavia, antes de um “Doutor- Anjo”, tratava-me de um homem covarde, que preferia o “socialmente correto” àquilo que se passava dentro de mim. E o  máximo que fiz, foi dizer:

- Você tem razão, Marrie. E por favor, para de me chamar de “Sr. Paul”.

- Do que você quer que eu lhe chame, então?

Espontaneamente, e pela primeira vez após estes poucos dias ao lado daquela mulher, respondi o que realmente desejava.

- De “bonitão”, Marrie. Gostaria que continuasse me chamando de “bonitão”.

- Então, bonitão, vamos lavar esta cabeça. Homens-anjos precisam estar sempre cheirosos. – Marrie já estava abrindo o xampu e massageando o meu couro cabeludo.

Foi engraçado, pois não me senti como uma criança, que tem sua mãe para lhe dar banho e lavar seus cabelos. Naquele momento, eu me sentira um homem viril, um ser amado, um ser tão amado que já não poderia mais tomar um banho sozinho. Um homem que merecia fazer tudo a dois.

Marrie fora buscar o meu café-da-manhã, e enquanto isso, eu me deitara na banheira que mal me cabia, enquanto esperava ela encher-se de água.

Quando Marrie voltou, equilibrava em suas mãos um prato com sanduíche e um suco de laranja.

- Agora sim, eu deixo você tomar seu café-da-manhã. – enquanto brincava comigo, Marrie ia se despindo.

- M-marrie, o que você vai fazer? – gaguejei, porque já sabia a resposta.

- Vou entrar na banheira com você, bonitão. – mais uma vez, completamente nua, frente a frente comigo, Marrie sorriu.

- Marrie, - disse, tentando me levantar. – Não tem espaço para nós dois aqui.

Mas Marrie já havia entrado na banheira e deitado de costas para mim. Sobre mim. E por mais que antes tivesse tentado me levantar, sabia que tentara de uma maneira devagar, bem devagar, pois não me saía da cabeça a ideia de sentir o corpo daquela mulher encostado no meu. Precisava saber como era ter Marrie tão perto de mim.

- Claro que há espaço, bonitão. Sempre há espaço para dois aonde antes não havia nenhum.

- O que quero dizer, Marrie, é que não sei se é certo nós dois ficarmos assim em uma banheira.

- O que tem de tão ruim em estar aqui comigo? Não somos amigos?

Sorri antes de lhe responder:

- Sim, Marrie, nós somos amigos. Mas não creio que amigos se comportem desta maneira.

- Então somos mais que amigos, Sr. Paul.

Marrie inclinara seu rosto para trás e olhara em meus olhos. Era impossível não sorrir ao ouvir o que ela tinha dito. Quis beijá-la, quis sentir seus lábios apertarem os meus novamente, mas, mais uma vez concluí que não seria o melhor a se fazer.

Apenas puxei um assunto banal que Marrie deu continuidade, e voltou a ficar de costas para mim. Contou-me sobre seu emprego na cafeteria, que havia combinado de ir hoje ao cemitério colocar flores no túmulo da mulher de Sr. Brian juntamente com ele, que havia feito amizade coma enfermeira Madalena, entre outras coisas. Não prestei atenção em nada do que ela dissera. Era impossível parar de olhar para suas costas e desejar passar os dedos sobre as cicatrizes em seus braços e ombros. Marrie estava claramente feliz.

Após o nosso demorado momento na banheira, já que não poderia chamar o que acontecera de “banho”, vesti uma roupa limpa que ficara guardada no armário e me dirigi para me despedir de Marrie. Precisava voltar para minha casa.

- Até amanhã, Marrie.

- Até amanhã, bonitão.

- Quero lhe pedir uma coisa: prometa-me que não levará seus novos amigos ao banheiro, assim como fizera comigo. – dizia aquilo em tom de brincadeira, porém não poderia ir embora daquele apartamento sem ter a certeza de que aquele momento seria só nosso.

- Mas é claro, bonitão. Você mesmo me ensinou hoje que um banho a dois não foi feito para amigos. Precisa ser mais que isso para se ter este momento.


Quando saí do apartamento, e já estava na rua, vi que Marrie me observava da sacada. Acenou-me com um beijo e um “tchau” com as mãos. Eu devolvi o aceno e caminhei até o carro com uma única certeza: Marrie tinha razão. Éramos mais que amigos.

6 comentários:

  1. Ai que Legal,onde eu encontro o começo da história em Jéssica?

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    1. Olá, que bom que gostou! Vou colocar aqui o link dos outros capítulos, ok??
      CAP.1: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013_10_01_archive.html

      CAP 2: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013/11/paul-e-marrie-cap-2-cateferia-de-sr.html

      CAP 3: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013/11/paul-e-marrie-cap-3-o-nosso-primeiro.html

      CAP 4: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013/11/paul-e-marrie-cap-4-quando-me-tornei-o.html


      CAP 5: http://negaescreve.blogspot.com.br/2013/11/cap-5-paul-e-marrie-primeira-promessa.html


      Qualquer coisa é só me mandar um email: jessicanegaescritora@gmail.com

      Espero que goste! Bjss

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. PERFEITAS CENAS...QUE COISA GOSTOSA DE LER...AMANDO O DESENROLAR DESSE ROMANCE...E AMANDO A MANEIRA SEMPRE ELEGANTE E DELICADÍSSIMA DE TECER SENSUAIS MOMENTOS....UMA VERDADEIRA ARTE...VOCÊ TECE UMA CENA COM PALAVRAS BEM COLOCADAS...SE SE PODE DIZER ASSIM, VOCÊ NOS FAZ SAIR DO TEXTO PARA UMA TELA, UMA CENA DE FILME...RICOS MOMENTOS ESTES DE QUARTA...PARABÉÉÉÉÉNS NEGA! AGUARDANDO OS PRÓXIMOS, NEGA...ADORANDOOOOO! BEIJOOOOOS

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  4. ESTOU ADORANDO O DESENROLAR DESSA HISTORIA ..... MAMAE

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