Peço que tenha muita calma ao me ler, pois não vim aqui para
debater nada: quero me desarmar.
Entrego-lhe minhas
armas, para que possa encostar em minhas mãos, e ver que sou de carne e osso. E
carrego comigo pele, calos e um pouco de suor.
Agora que já sentiu o calor da vida ao tocar parte de mim,
sinto que posso lhe falar. Na realidade, sinto que devo.
Devo porque posso, e a partir do momento em que o que é
proibido torna-se permitido, parece que se cria uma obrigação.
E hoje eu posso falar. Eu, você, aquele que conheço e gosto,
aquele que conheço e não gosto, e até aquele que mesmo desconhecendo, nunca
conseguirei simpatizar.
Porque hoje o mundo é o lugar daqueles que se pronunciam.
Dos que batem o pé, batem no peito, batem de frente, batem a cabeça. Afinal,
lutamos e conquistamos este direito de falar, portanto, nada mais que obrigação
revelarmos a nossa opinião.
Porém, falar sobre o quê? Não sei, não importa! Invente
alguma coisa, ou caso não queira assumir um apaixonado por mentiras e ilusões,
maqueie-se!
Leia um pequeno artigo a respeito, ou, pelo menos, decore
uma frase dele. Foi-se o tempo em que a pesquisa durava por um prazo
indeterminado. Hoje basta meia hora para se tornar um expert em alguma coisa.
Ou em tudo.
E agora que você já sabe (complenacertezaabsolutadedogmaverídico),
está pronto para a melhor parte: transmitir.
Mas não como quem quer dividir, somar. Nem como quem quer
tocar, conduzir. Quer-se, apenas, afirmar. Pontuar. Corrigir.
É tão estranha essa nova modalidade de expressão, que não se
fala mais através de palavras. Fala-se com os dedos, estes bem esticados e
apontados para aquele que também quer apontar. Até porque, ele também pode.
Todos podem. E ninguém sabe o que fazer com este poder.
É tanta informação acumulada, concentrada e anotada, que a
boca espuma de vontade de falar. Assim como um cão que rosna enfurecidamente
antes do ataque, enchemos o nosso coração de um fervor sem motivo justificável.
Contudo, convido vocês a se perguntarem (não para os outros,
e sim para você mesmo): quando foi a última vez que tomei alguma atitude que
não fosse para mostrar a alguém? Que não fosse para provar algo a alguém? Que
não fosse para ser registrado? Quando foi a última vez que fiz algo de mim,
para mim?
Pois são nestes pequenos intervalos, nestes pequenos
momentos, onde não desejo um aplauso (hoje também conhecido como “curtida”),
uma resposta ou reconhecimento é que se encontra a verdadeira liberdade de
expressão. Liberdade de ser.
O resto, meu amigo, não se engane. É perda de tempo.
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