(FONTE: http://static.quizur.com/i/b/5592e1bd6a0dc4.396594085592e1bd5a1194.01319307.jpg)
(Leia o capítulo 06 em: http://www.negaescreve.com.br/2016/03/a-mortifera-capitulo-06-quem-esta-do.html)
- Não se preocupe, papai. Eu sempre fui a sua garotinha de ouro, nunca o decepcionei. Não vai ser agora que as coisas irão mudar.
(Leia o capítulo 06 em: http://www.negaescreve.com.br/2016/03/a-mortifera-capitulo-06-quem-esta-do.html)
- Não se preocupe, papai. Eu sempre fui a sua garotinha de ouro, nunca o decepcionei. Não vai ser agora que as coisas irão mudar.
Conversando com ele, eu parecia confiante,
mas foi uma das poucas vezes que senti meu coração bater mais forte. Será que
Marco estava mesmo com segundas intenções por trás de nosso namoro?
Sim, ela era gentil demais, compreensivo
demais, e até educado demais para um ex-soldado. Contudo, não havia em seu
olhar qualquer tipo de maldade que pudesse fazer com que eu me desconfiasse se
sua índole. De duas, uma: ou Marco era muito mais inteligente do que eu
pensava, ou ele estava vivendo a pior coincidência de sua vida, pois a única
pessoa a que eu obedecia era meu pai, e quando Rick Shadda dizia “Basta!”,
aquilo significava que alguém teria de morrer.
Eu precisava planejar a morte de Marco, e
precisava que fosse um plano minuciosamente estudado, pois qualquer falha que
acontecesse, o segredo de meu pai, e automaticamente os meus segredos seriam
revelados. Seria um pouco complicado, já que a descoberta do pai de Marco fora
totalmente repentina, mas não seria impossível para que eu continuasse fingindo
até que tudo se resolvesse.
Contudo, acredite você ou não, meu caro
leitor, mas a primeira coisa que fiz quando me encontrei com Marco de novo foi:
- Por que você não me falou quem era seu
pai? – perguntei, com lágrimas nos olhos. Ainda não entendia o por quê, só
percebi que as palavras saíram de minha boca quando já era tarde demais.
-Não entendi sua pergunta, Marina.
- Pois então deixe-me ser o mais clara
possível, Marco. Por que você não me contou que o seu pai é o maior
narcotraficante do país? Por que você escondeu isso de mim?
Marco não me respondeu de imediato. Seus
olhos também encheram-se de lágrimas ao olhar para mim.
- Eu escondi muitas coisas de você,
Marina, e espero que me perdoe.
- Eu não acho que isso seja possível,
Marco.
Marco calou-me carinhosamente com os
dedos, e prosseguiu:
- Eu escondi muitas coisas de você,
Marina, mas nenhuma delas foi algo ao meu respeito. Eu não falei nada para você
sobre meu pai porque sabia que você jamais se envolveria comigo sabendo de
minha procedência.
- E com razão, mesmo! Pois se eu
soubessse... – Marco, mais uma vez, calou-me.
- Eu sabia que jamais teria a chance de me
aproximar de você, e também sabia que se contasse sobre ele, estaria sujando
também a minha alma. Mas eu não ele, Marina. Nunca fui, nunca serei. E eu já
cansei de perder minhas coisas, minha vida, por este alguém que me colocou no
mundo, mas nunca me representou. Eu sempre fui o melhor de todos os soldados,
mas nunca pude subir de posto, pois exército nenhum pode ser comandado por um
filho de um traficante, imagina que mal eu poderia fazer para o país? – Marco
agora, não tentava mais conter as lágrimas. – Eu nunca reclamei disto, sempre
honrei o meu trabalho e continuei sendo o melhor naquilo que fazia. De alguma
forma, encarava minha profissão como uma forma de redenção. Meu pai ia lá, e
fazia todo o mal, e eu, passava por ali depois, e limpava tudo de ruim que
havia acontecido, e tentava espalhar um pouco de amor.
“Foi assim que fiquei conhecido, você
sabe. Eu consegui fazer minha vida só dando aquilo que tinha de melhor. Nunca
precisei, ao contrário dele, de subornar alguém para conseguir algo. Nunca agi
contra os bons princípios, e nunca tive medo de ser diferente dele. Ele me
odeia, Marina, ele me odeia tanto que colocou aquela bomba não para tirar a
minha perna. Ele queria a minha vida. E graças a você, ele não conseguiu.
Graças a você, que eu tanto quero bem, tenho ainda a oportunidade de continuar
sendo alguém do bem.”
- Mas e a casa onde você mora? Seus bens,
eles...?
- Eles são frutos da herança que minha mãe
me deixou, Marina. Existem pessoas ricas que não trabalham com o crime. Seu pai
é um bom exemplo disso.
Eu sabia que aquelas palavras não eram
garantia nenhuma que Marco estava falando a verdade. Mas eu queria que fosse
verdade, e assim acreditei, naquele momento, que aquele era o homem certo para
continuar sendo companheiro. E porque não, alguém que eu pudesse me afeiçoar.
Dormi com Marco, e ao chegar em casa,
dormi com meu pai para acalmá-lo diante do ocorrido, e assim que meu pai saiu
para mais uma viagem, dormi também com Eric, para continuar meus planos.
Você deve estar pensando várias coisas ao
meu respeito, e nem tente me enganar, dizendo que não sentiu um pouco de nojo
de mim, pois conheço você, meu caro leitor. Conheço sua mente, seus anseios,
seus medos, seus preconceitos. Eu, melhor do que ninguém, sei exatamente o que
você sente ao me ler, mas não ligo.
Estas palavras não foram feitas para
acalmar seu coração, escrevo porque a minha história precisa ser contada, e o
que aconteceu foi que, antes do planejado, as coisas começaram a pegar fogo.
Dei um longo beijo em Eric, e ao abrir a
porta para que ele fosse embora de minha casa, lá estava toda a corja dos De
Ray: Delegado Phillip, sua esposa Camille, Nicolle, e o pequeno Charles. Todos,
inclusive a criança, estavam boquiabertos.
O meu espanto foi tão grande que não
consegui compreender o que Nicolle gritara antes de tentar avançar em meu
corpo. Eu disse tentar, pois antes que ela conseguisse me encostar um dedo, seu
pai agarrou-lhe pelos cabelos e lhe deu a bofetada mais forte que eu já vira.
Mais forte, inclusive, das que recebera enquanto estava sob os meus comandos.
- CHEGA! VOCÊ ESTRAGOU A VIDA DESTA MOÇA,
ESTRAGOU A MINHA VIDA, CHEGA DE HISTERIA, CHEGA, NICOLLE! AMADUREÇA!
- P – pai... – Nicolle estava incrédula, e
com um dos lábios sangrando.
- Ora, Phillip! Você já foi longe demais!
Acusar Nicolle, sua própria filha?! Acuse os traficantes que você passava
noites e mais noites investigando, ... – Camille tremia ao gritar com o marido.
- CALE A BOCA VOCÊ TAMBÉM, SUA VAGABUNDA!
OU ENTÃO VOU EMBORA DE CASA, E ME LIVRO DE VOCÊS! EU PRECISO DE PAZ. – Phillip
caiu de joelhos, e começou a chorar. – Eu não estou bem, queridas. Me desculpe,
não sei porque estou fazendo essas coisas. Está tudo tão confuso em minha
cabeça. Eu preciso conversar com você, Dra. Marina. Sei que você não clinica
mais nesta área, mas preciso que alguém de confiança me ajude, alguém que não
vá pedir minha suspensão da polícia.
E foi assim, deixando que Nicolle, Eric e
Camille se resolvessem, pedi para que Phillip entrasse em minha casa para que
pudéssemos conversar.
Enquanto íamos andando até chegar ao
escritório de meu pai, Phillip ia passando os dedos trêmulos pela mobília da
casa. Sem olhar para mim, afirmou:
- É como se eu já conhecesse tudo por
aqui...
- Não se preocupe, querido. Após eventos
traumáticos, infelizmente as vítimas costumam identificar um pouco de sua
dor por onde passam. Mas isso vai passar. – disse, com uma ternura falsa,
enquanto pousava a mão sobre o seu ombro.
Assim que entramos no escritório de meu
pai, peguei a maleta que deixava guardada no armário, higienizei as minhas mãos
e os meus instrumentos. Fiz ali um pequeno exame clínico. Phillip estava em
gozo de plena saúde, muito mais do que eu esperava.
- Delegado Phillip, temo que as notícias
não são boas. – disse, abaixando a cabeça. – Devido ao enorme estresse que o
senhor vem passando ao longo desses dias, sua saúde não está nada bem. Vou
pedir alguns exames para ter mais certeza, mas por enquanto, para que eu possa
tratá-lo e ver resultados rápidos, preciso lhe pedir uma coisa...
- Qualquer coisa, Dra.! Faço qualquer
coisa para voltar a ser o Delegado Phillip de antes! Eu preciso voltar a
trabalhar logo, eu preciso...
- Então, para que isso aconteça, você vai
precisar deixar sua casa. E a sua família. – falei séria, olhando em seus
olhos.
Delegado Phillip arregalou os olhos, surpreso,
mas, por incrível que pareça, parecia se sentir um pouco aliviado.
- Pelo menos por um tempo, Phillip.
Afastar-se de sua família pode parecer doloroso, mas, infelizmente, como eles
não estão sabendo como lidar com os seus problemas, eles estão só atrapalhando
você. Sei que não parece muito ético dizer isso, mas eu só quero o seu bem. Sou
uma pesquisadora, sabe, os meus métodos não costumam ser os mais convencionais,
mas são sempre aqueles que produzem o melhor resultado. E de forma rápida.
Posso contar com você?
- Claro, Dra., claro! Mas para onde eu
iria?
- Você pode ir para um hotel, e sugiro que
não saia do quarto, nem tenha contato com ninguém. Vou visitá-lo todos os dias
para fazermos o nosso trabalho. Vou ligar para um amigo para que ele possa
levar você para um local seguro.
Qualquer pessoa em sã consciência acharia
estranho tudo aquilo. Porém, Phillip estava tão afoito e confuso com sua
situação, que simplesmente aceitou.
Saí do escritório e liguei para Marco. A
única pessoa que confiava naquele momento:
- Querido, você acredita na redenção
humana?
- Claro, Marina.
- E se eu lhe confessasse que eu sou uma
das piores pessoas do mundo?
- Eu não acreditaria em você, minha linda.
- Mas e se eu te provasse que eu sou?
- Marina, acho que já vi de tudo nesta
vida, não seria fácil você conseguir me convencer a desistir de você.
- Então você me aceitaria assim?
- Eu iria ouvir o seu lado, tentaria
entender o que te aconteceu, e procuraria alguma forma de mudarmos isso.
Juntos.
- Então você me ajudaria?
- Sim.
- Independente do que fosse?
- Marina, o que está acontecendo?
- Eu fiz algo de muito ruim, meu amor,
muito ruim mesmo. E preciso consertar isso. Mas não conseguirei sem a sua
ajuda.
- O que você quer que eu faça?
- Você pode levar um amigo meu em
segurança para algum hotel? Preciso também que o vigie, pois ele não pode sair
de lá. Ele está correndo muito perigo.
- Mas é claro! Onde ele está?
- Aqui em casa.
- Estou indo agora para aí.
- Muito obrigada, Marco. Você não sabe o
quanto isso significa para mim.
- Você é que não sabe, Marina, o que eu
poderia fazer por você. Até já.
E foi assim, bem assim, que eu tive mais
um lindo dia, e muito feliz. Com certeza Eric seria expulso de casa, após o que
Nicolle vira. Agora, eu levava o seu querido papai para longe de sua proteção.
Mas não pensem que eu pararia por aí, meus
caros. Ainda faltava o pequeno Charles, para que o plano se completasse.
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