quarta-feira, 2 de abril de 2014

PAUL E MARRIE - Cap. 25: PRESSA EM SER FELIZ

(FOTO: https://www.flickr.com/photos/bogdansuditu/2377842887/sizes/m/in/photolist-4C84Ra-4R2y5o-4Y1Xku-5hRNE9-5jD4mB-5jUCUp-5knmHN-5kHaRc-5uGGC8-5uSpD7-5vhh2F-5EEiK6-5F3SAn-5GSFdA-6e7ThV-6ec4nN-6ec5bb-6fsYE3-6AP4S2-6GAqWg-6RSSD7-6S2aBi-6UqCx4-74wDq8-7cV8Cg-7kbKxC-7nFGvH-7vfdsh-dvJ234-dtFrXY-dLKq3n-g9ueUn-g9uRsM-9qBZZk-8bdjTY-8SESTm-e9kHBt-9jw6zG-dfSjgs-ayB1zk-ayDFBA-9p9aww-gp2oaV-c5gY1S-bEFzcE-bEnNtU-bXGnLA-bEnNyu-bXGbQm-bThxxV-bEnNSo/)


Eu tremia tanto quando entrei no carro que tive que pedir para que Marrie acendesse o meu cigarro para que pudéssemos seguir viagem. Não conseguiria dirigir por um quilômetro que fosse se não desse uma tragada antes. Mas os cigarros não conseguiam me acalmar.

O carro parecia voar pela estrada de terra, e não havia vento no mundo que me fizesse parar de suar. Sentia-me, naquele momento, muito mais como um prisioneiro fugitivo do que quando fora obrigado a fugir de verdade para me esconder na fazenda. Meu coração estava a mil por hora.

Era perceptível o nervosismo de ambos, a adrenalina correndo por aquele carro que mal cabia o enorme vestido de Marrie, e suas mãos tremiam tanto quanto as minhas. De repente, encostei o carro embaixo de uma árvore e disse para Marrie:

- Olha, Marrie, me perdoa, eu sei que você não imaginava sua lua de mel começando assim, mas...

- Ah, bonitão, - Marrie sorriu, ainda trêmula. – eu sequer achava que algum dia alguém fosse ter coragem de se casar comigo... há há há. Acho que estou no céu agora. Estou ao lado de quem eu quero. – Marrie pousou sua mão sobre a minha. A mão do anel.

- Por quê você ia fazer isso, Marrie? Por que se casar com ele? E agora, eles vão nos encontrar e...

- Ninguém virá atrás de nós, bonitão... – Marrie sorria para mim como se soubesse de algo que eu ainda não tinha consciência.

- Como assim? Eu vi a cara de perplexidade daquele seu noivo, ele não vai deixar você ir embora tão fácil...

- Penso eu, Sr. Paul, que isso é tudo o que ele mais quer.

- Não estou entendendo você, menina! O que é que está acontecendo?

- Será que você não percebeu, Paul? Andrew, meu noivo, é gay! Gay de verdade, não gay como você disse que era para mim alguns anos atrás. David não contrataria alguém que não fosse interessante para ele, você sabe disso, - olhei assustado para Marrie e pensei em lhe interromper, porém não o fiz. – não que os dois tenham algum caso, porque Andrew me disse que o David não faz o seu estilo. – Marrie olhava para um ponto fixo, como se estivesse se recordando do que estava a me dizer. – Pois bem, ele foi contratado para o hospital, e logo ligou os pontos, percebendo que David estava envolvido com a sua denúncia e veio me perguntar o que realmente tinha acontecido. Eu, que estava muito abalada, sem ninguém para conversar, acabei me abrindo com Andrew e contando toda a nossa história. Desde então nos tornamos grandes amigos.

“E por um acaso do destino, Paul, Andrew também me contou a sua história. E ele é como você era no passado. Ele precisava muito de alguém para manter as aparências, e ninguém melhor do que eu, a pobre menina que acabara de perder seu homem e o Sr. Brian. Andrew e eu combinamos fingir o nosso namoro, assim como um dia eu fizera com você, bonitão.

Entretanto, Andrew nunca me olhara como um dia você me olhou, e eu sabia que estava diante de um acordo verdadeiro. Seríamos grandes amigos nos ajudando, pois eu sabia que quando você descobrisse que outro alguém entrara em minha vida, você daria um jeito de me buscar de volta. Eu namorei Andrew esperando você me resgatar.

Mas o tempo passou e nada de você aparecer. Ficamos preocupados. Andrew então pensou que talvez um namoro não estivesse sendo convincente o suficiente para trazer você de volta. E foi então que ele bolou este plano: que se nós dois nos casássemos, tudo estaria resolvido. Você com certeza faria com que nosso noivado acabasse, e Andrew, ao perder sua “amada” noiva, poderia se recolher em tristeza e nunca mais estaria obrigado a aparecer com outra mulher nas ruas. Seria como um amor que não se supera.

Neste meio tempo eu vendi a cafeteria, pois sabia que se o plano funcionasse, nós precisaríamos fugir...”

- Paul, você está ouvindo o que estou lhe contando?

A verdade, meu caro leitor, é que eu parara de escutar a partir do momento em que ela disse que o tal de Andrew era gay. A partir dali, eu ficara duro e desejando Marrie, apenas a observando balbuciar as palavras.

- Não, Marrie, eu não estou lhe ouvindo... – respondi, sorrindo para ela e segurando seu queixo com uma de minhas mãos. – Mas não se preocupe, minha pequena, você terá a vida inteira ao meu lado para me contar a nossa história. Quantas vezes você quiser.

Fizemos amor ali mesmo, dentro do carro emprestado e no meio da estrada. O cheiro do xampu de Marrie penetrara pelas minhas narinas e eu tinha a plena certeza de que se eu não encostasse em sua pele, se eu não sentisse o meu eu ligado ao eu dela naquela hora, que eu não conseguiria coragem para seguir viagem. E assim eu o fiz.

Depois seguimos viagem até a fazenda, e Marrie terminou de me contar sua história. Vendera a cafeteria para fugir comigo, e pedira para um dos amigos de Mr. Richard falsificar os nossos documentos. Não seríamos mais “Paul e Marrie”. Seríamos “Brian e Margareth”, em homenagem ao dono da cafeteria da cidade.

Senti um arrepio passar pela nuca, pois o Sr. Brian perdera sua esposa muito cedo, mas não quis incomodar Marrie com qualquer pensamento negativo meu. Estávamos em nosso melhor momento. Precisávamos só pensar em quando ir embora.

Marrie sugeriu que voltássemos de madrugada até a cidade, para que pudéssemos pegar o dinheiro que estava escondido e os nossos documentos. Concordei com ela de imediato e arrumei as malas ao anoitecer.

Lembrei-me que meu avô tinha um cofre na biblioteca, e fui até lá pegar o que estava guardado. Apesar de um pouco enferrujado, assim que tentei pela terceira vez uma senha que lembrava de meu avô me contar, ele se abriu e ali encontrei as joias da família. Não hesitei e nem pensei em meus pais, apenas as peguei e coloquei dentro de minha mala.

Uma dessas joias levei até o nosso vizinho e a ofereci em troca do carro. Era uma troca ridícula, pois a joia valia dez vezes mais que aquele veículo usado, mas meu vizinho pareceu perceber de minha situação de urgência e aceitou com um enorme sorriso a oferta que lhe fiz.

Marrie estava com uma calça e uma blusa minha, e deixou o vestido na fazenda sem nenhuma vontade de carrega-lo de volta para a cidade. O anel permanecia em seu dedo.

Quando chegamos, não demorou mais que meia hora para que Marrie arrumasse suas coisas e pegasse o dinheiro e os documentos que deixara escondido. Assim que entrara no carro de volta, eu lhe disse:

- Este foi sem sombra de dúvidas o plano mais insensato que já ouvi em toda a minha vida.

- Acho que esse plano foi o único que já deu certo, bonitão. Só lamento muito porque não pude interferir no seu julgamento perante o Conselho, sei que vai ser muito difícil para você não trabalhar mais como médico.

- Nós iremos resolver isso, Marrie. – respondi, segurando sua mão. – Nós iremos ser felizes juntos. Mas antes de ir embora, eu gostaria que você tirasse esse anel de noivado da mão, - disse, enquanto delicadamente puxava o anel de seu dedo. – e colocasse este aqui, o anel do noivo certo. - coloquei a mão no bolso, e de lá tirei um anel que um dia fora de alguém na minha família, e o coloquei na mão de Marrie. Ela estava boquiaberta.

- Nós vamos nos casar, Sr. Paul?

- Sim, Marrie. E mais do que isso, nós vamos voltar a ser um só. – beijei sua mão, seus lábios e segui viagem com o carro.

Viajamos por dias intermináveis, até que atravessamos o país, em busca de um novo lugar para morar. Estávamos com fome, e resolvemos parar em um pequeno vilarejo para que pudéssemos almoçar.

- Paul, - Marrie sussurrou quando descemos do carro. – é aqui. É aqui que vamos morar.

- Como você pode saber: - perguntei a Marrie.

Ela apenas me respondeu com um dedo apontado. A cidade era composta de apenas uma rua, poucas casas e algumas lojinhas. E ali, bem no centro, havia um local abandonado com um enorme cartaz pregado: “VENDE-SE ESTA PADARIA.”

- Paul, nós podemos montar o nosso café aqui.

- Você só pode estar brincando, Marrie... Nós mal conhecemos este lugar. E um café jamais daria certo em uma cidade deste tamanho! Isto daqui é praticamente um vilarejo!


É, meu caro leitor, e não é que este café deu certo? Marrie estava encantada com o lugar e conseguimos falar com o dono no mesmo dia. Este se cansara do marasmo daquela cidade e resolvera se mudar, e há anos tentava vender o seu estabelecimento, infelizmente sem obter sucesso algum. Como estávamos com dinheiro vivo, conseguimos marcar uma reunião para o dia seguinte, e “Brian e Margareth” compraram o que se tornou a nova “Cafeteria de Sr. Brian.”

Um comentário:

  1. O desenrolar da história não poderia estar sendo melhor .... a cada capitulo voce mostra o seu dom de saber escrever e de saber envolver e prender os seus leitores : Parabens !!!!!!!!!!!!!!!!!
    Mil bjos, mamae

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